Os arguidos começaram a ser ouvidos depois de o julgamento ter sofrido vários adiamentos, por diferentes motivos: greve dos oficiais de justiça, falta de meios do Estabelecimento Prisional do Porto para transportar dois detidos e necessidade de um deles receber tratamento hospitalar.
Segundo a acusação, os arguidos estiveram envolvidos num plano que visava ludibriar pessoas que colocavam carros de gama alta (de marcas como Ferrari, Porsche e Mercedes) à venda em sites da Internet (Olx e Standvirtual).
Dos 17 arguidos – que estão acusados de 133 crimes de burla qualificada, falsificação de documento e detenção de arma – 13 estiveram hoje no Tribunal de Viseu e só dois quiseram falar.
Um deles disse ter como atividade a compra e venda de carros, mas de baixos valores, sendo que, no que respeita aos de gama alta, só participa como intermediário, recebendo uma comissão.
Questionado sobre o envolvimento que teve num negócio com um Nissan GTR, contou que, um dia em que estava em Badajoz, dois dos arguidos propuseram vendê-lo por 60 a 70 mil euros, tendo contactado um amigo seu que pensou que estaria interessado.
Segundo o arguido, o negócio não se concretizou porque o seu amigo considerou haver problemas com a documentação do carro e achou estranho o preço ter baixado muito durante os dois ou três dias de negociação.
Admitiu, no entanto, que emprestou mil euros a esses dois arguidos para tratarem de documentação, porque conhecia as suas famílias que, tal como a dele, são de etnia cigana e não podiam “ficar mal uns com os outros”.
Durante a manhã, falou também um advogado brasileiro, a exercer na Figueira da Foz, que apenas está acusado de um crime de falsificação de documentos e garantiu não ter participado em qualquer negócio, nem estar em comunhão de esforços com os restantes arguidos.
O advogado contou que, para evitar contactos devido à pandemia de covid-19, os clientes eram recebidos num balcão pela sua secretária, que os identificava, e depois ela lhe levava os documentos para que fizesse o reconhecimento.
Apesar de não se lembrar concretamente do reconhecimento de assinatura que consta na acusação – até porque esse foi um de 114 atos que realizou desde que começou a advogar em Portugal -, admitiu já ter sido advogado oficioso de um dos arguidos, que também é brasileiro.